tag:blogger.com,1999:blog-45033500626489403492024-03-06T01:24:35.944-08:00Literatura Fantástica por Sílvia MotaPoeta e Escritora do Amor e da PazSílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Pazhttp://www.blogger.com/profile/09248745027360598811noreply@blogger.comBlogger3125tag:blogger.com,1999:blog-4503350062648940349.post-34662726589028310532010-03-23T15:49:00.000-07:002010-08-06T19:58:29.279-07:00O jardim e a poeta - Fábula - Episódio nº 3: As grades que te encarceram, libertam-me!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK-E0ysf_rSlVX0OPpF7KlTKq82QueAhRS75LoGiqforccN4bcPKrR2ZatDFbRKNAdNkCFkotSdO95Spd6VPhMxa8yYTTrUkcNkT7iGaJpviFNQr8ANGCEbVPYB86OJCKYFAuXWpTn4Mjz/s1600-h/ojardimeapoeta-assinatura.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 142px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK-E0ysf_rSlVX0OPpF7KlTKq82QueAhRS75LoGiqforccN4bcPKrR2ZatDFbRKNAdNkCFkotSdO95Spd6VPhMxa8yYTTrUkcNkT7iGaJpviFNQr8ANGCEbVPYB86OJCKYFAuXWpTn4Mjz/s200/ojardimeapoeta-assinatura.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5451966166541316562" /></a>
<br />
<br />Manhã de sol bonito. Lagoa brilhante. E eu, que ansiava pelo meu jardim! Com este pensamento, desci as escadas, correndo! Poetrix, espantado pela minha energia, por ver-me a sorrir, novamente, saiu à frente, folgazão. Carecia de sol, urgente! Melhor dizendo, necessitava, u-r-g-e-n-t-e-m-e-n-t-e, sorrir!!!
<br />
<br />- Vem minha querida! Vem brincar comigo! Aqui fora está bem fresquinho!
<br />
<br />Que voz grossa! Não era minha Rosa querida...
<br />
<br />- Vem... o sol está uma delícia! Do jeitinho que tanto gostas!
<br />
<br />Como?!! Uau!!! Poetrix falava comigo? Não podia ser! Estaria com a razão frouxa?
<br />
<br />Aflita e desconfiada dos próprios ouvidos perguntei: - Poetrix! Podes falar?!!!
<br />
<br />Meu cão, feliz, corria de um lado para o outro, saltando atrás dos besouros, pelo quintal!
<br />
<br />- Claro que posso falar contigo... não me estás a ouvir? respondeu-me, carinhoso, esfregando-se pelas minhas pernas.
<br />
<br />- Meu amor! Que maravilha! Saberei todos os teus desejos, o que pensas de mim e tantas coisas mais! Por que não falaste comigo, antes?
<br />
<br />- Porque tudo tem o seu tempo certo, minha querida mamãe... Ops! posso chamar-te assim?... Afinal, és minha mamãe de criação... posso? rosnou, suavemente, acercando-se de mim.
<br />
<br />Emocionada por aquela surpresa, abracei-o muito, muito, muito! Meu companheiro, de todos os dias. Meu fiel protetor, falava comigo!
<br />
<br />- Claro que me podes chamar de mamãe! Meus filhos não se aborrecerão, por isso! Ah! Meu neném...
<br />
<br />O traquinas desembaraçou-se do meu abraço e voltou para o meio do quintal, alegre como ninguém! Fiquei a admirar-lhe o pelo negro, brihante, brilhante! Aquela estrutura corporal, robusta e musculosa, encantava-me! Suas mandíbulas sadias, com presas ameaçadoras, contrastavam com o carinho que me devotava! Obediente, fiel e corajoso, meu belo cão!
<br />
<br />O chamado de Rosa retirou-me daquele enlevo. Rápida, fui ao seu encontro.
<br />
<br />- Poeta! Que bommm!!! Estás feliz, novamente, que maravilha! Se soubesses como tens o sorriso bonito, jamais deixarias de sorrir!
<br />
<br />- Ah! Rosa! Estava com tantas saudades da minha alegria, eu também!
<br />
<br />Ensaiei uns passos de dança pelo jardim, com muito cuidado para não machucar a grama verdinha.
<br />
<br />- O sol mostra-se tão saudável, que aproveitarei para limpar uns quadros meus...
<br />
<br />Dito isso, entrei em casa. Na sala, retirei da parede um quadro grande, de dois metros por um e meio. Ai! Que difícil carregá-lo! Mas, batendo aqui e ali, consegui chegar até o quintal.
<br />
<br />Rosa riu do meu esforço.
<br />
<br />- Que quadro estranho, esse! Tem uma grade de ferro colada ai, ao lado?
<br />
<br />Sorri, balançando a cabeça em assentimento à sua inquirição.
<br />
<br />- Deixa-me limpá-lo, enquanto o sol não esquenta muito, caso contrário a cera que o reveste derreterá. Então, contar-te-ei uma curiosa história.
<br />
<br />- Também quero ouvi-la! interrompeu-nos Poetrix.
<br />
<br />Os botões de rosa puseram-se a rir do cãozinho ciumento.
<br />
<br />Ao final, todo limpinho, coloquei o quadro ao abrigo do sol e arrastei uma espreguiçadeira confortável, até perto da roseira. Gostaria de fitar o céu, tão lindo, enquanto recordasse aquela fase distante da minha vida... A curiosidade inocente da minha flor preferida fizera-me relembrar um passado, que também contribuia, de alguma forma, para justificar a tristeza dos últimos dias. Afinal, minha expressão artística enveredava por outras sendas, que não somente a poesia.
<br />
<br />Rosa, antevendo o significado da minha revelação, anunciou que ficaria quietinha, enquanto me ouvisse e pediu à Natureza e ao Poetrix, que fizessem o mesmo.
<br />
<br />Iniciei, então, meu monólogo...
<br />
<br />- Fiquei muito tempo sem pintar! Mais de 15 anos, acreditam? Ao final do ano passado, Sueli Vitiello, querida amiga, provocou-me tanto, tanto, em razão disso, que lhe pintei quatro quadros de uma só vez! Durante uma semana, nada mais fiz, senão pintar. Deixei-lhe a casa toda florida!
<br />
<br />Sorri ao relembrar a felicidade estampada no rosto da minha amiga e do seu filhão!
<br />
<br />- Bem, a história que lhes desejo contar ocorreu há quase vinte anos atrás, quando desfrutava um grande amor com meu segundo marido!..
<br />
<br />Espraiei o corpo, langorosa...
<br />
<br />- Certa vez, após duas semanas de trabalho continuado, a vigiar escondida, passo a passo, cada interferência do tempo sobre a matéria que trabalhara com tanta inquietação, tinha diante de mim o quadro mais estranho, que jamais poderia imaginar que pudesse nascer através das minhas mãos!
<br />
<br />Meu olhar perdia-se de mim, para brincar pelas nuvens do céu...
<br />
<br />- Ah! Meus amiguinhos! Ao levantá-lo do chão, encantei-me! Aquela textura em relevo, ainda molhada, tinha uma aparência que fascinava e assustava ao mesmo tempo. Emoção incontida, gritei pelo meu marido, tão atento, sempre, a todas as minhas criações pictóricas. Ao entrar no atelier, seu olhar, extasiadamente surpreso, fez-me acreditar que valera a pena! Repetiu para si mesmo: “Que loucura! Fantástico!” Aproximou-se e, lentamente, pôs-se a analisar, pedacinho por pedacinho... Após alguns minutos de contemplação, parabenizou-me, orgulhoso! Abraçou-me, acendeu um cigarro e caminhou pensativo, para a sala. Sentou-se ao sofá, frente à televisão... e pude imaginar o que pensaria naquele momento. Afinal, acompanhara minha evolução como pintora. Quando nos conhecemos, quis ver meus trabalhos. Recém separada do primeiro marido, tímida, recuei, pois não abriria as portas do meu apartamento a um homem estranho, mesmo que fosse um colega de trabalho. Tal foi a insistência, que levei ao escritório um dos meus quadros, com o qual amealhara três prêmios em concursos de pintura. Ah! Nunca vira nada igual! Foi paixão à primeira vista! Perguntou-me o valor, pois desejava comprá-lo. Mas, eu não pretendia vendê-lo... Insistiu, mas não sucumbi às ofertas. Qual a razão? Não sei. Necessitava de dinheiro - e muito - pois meu primeiro marido deixara-me com três filhos e eu ainda não ingressara em juízo com o pedido de pensão alimentícia para as crianças.
<br />
<br />Ninguém despregava os olhos de mim, naquele momento. Continuei minha história.
<br />
<br />- Meses após a negativa de vender-lhe o quadro tão desejado, passamos a dividir o mesmo teto. Apaixonamo-nos avassaladoramente. Carlos dizia aos amigos que se casara comigo para ter o quadro que tanto gostava. Tornou-se meu principal admirador. Apanhou quadro a quadro, do mais bonito ao mais simples e levou-os, a todos, para emoldurá-los. Engraçado, como não expressava o mesmo interesse pelos meus poemas... Nossa união terminou há mais de 10 anos, mas “Ascese” enfeita a parede principal da sua residência, até hoje.
<br />
<br />Pensativa, soltei um suspiro profundo e as rosas cutucaram-se, enxeridas. Percebi que apostaram, umas com as outras, que eu ainda amaria aquele homem. Senão, por que me lembraria dele, com tanto carinho? Rosa não participou daquela fofoca e Poetrix preocupava-se mais em aproveitar aquele momento para enroscar-se a mim.
<br />
<br />- Pois bem, voltando ao encantamento provocado pela obra anteriormente citada, quedei-me a lamber a cria. Mas, faltava algo, que ainda não descobrira! Apanhei um banquinho, incômodo, para sentar. Não buscava conforto, mas provocação. E, foi o que fiz. Faltava algo. Ah! Faltava sim! Mas, o quê? Permaneci, por alguns minutos, observando a minha criação. Em silêncio, meu olhar provocava a tela... quase a implorar-lhe respostas. Mas, a tela, silenciosa, retribuia-me o olhar angustiado. Interação. Busca pelo orgasmo, mútua.
<br />
<br />As rosinhas avermelharam-se ainda mais e emitiram um gritinho excitado! Continuei meu conto, alheia ao efeito das minhas palavras.
<br />
<br />- De repente, não mais do que de repente, levantei-me. Estilete afiado nas mãos, feri o quadro, com gosto!
<br />
<br />- Ai! Ai! Ai! - gritaram as rosinhas, em coro! Rosa lançou-lhes um olhar fulminante e as meninas calaram-se.
<br />
<br />- Rasguei-o, como se rasgasse a pele do meu amor, com as unhas e os dentes, nos momentos da paixão! Outro golpe. Mais um. Um retângulo da tela dependurou-se, pesado de tanta matéria. Terminei meu ataque, a saborear a retirada da parte rejeitada, como se lambesse o produto de uma ejaculação candente. Cortei-a e, cuidadosa, guardei-a num canto. Não era lixo. Era algo, embora eu não soubesse, ainda, o quê.
<br />
<br />A esta altura do meu relato, a grama orvalhou e as rosinhas estremeceram, num arrepio. Poetrix saiu de perto, aborrecido com aquele frenesi. Subiu na casinha da bomba d'água para olhar, do outro lado do muro, a cadelinha que acabara de ser mamãe de três cãezinhos.
<br />
<br />- Ao pressentir-me em êxtase, Carlos apareceu na porta e, horrorizado com o que viu, gritou inconformado: “O que fizeste?!!! Estás louca?!!!” Angustiado, arrancou-me o estilete das mãos! Perplexo, com a destruição! Gritava: - Destruíste tua obra prima! Como pudeste fazer isso?!!! Depois de tudo pronto! Não posso acreditar! Não posso acreditar! Estás brincando de ser pintora!!! Diante daquela reação, calei-me, assustada! Não sabia o que responder.
<br />
<br />Abaixei o tom da voz e continuei:
<br />
<br />- Pela primeira vez, em relação à minha pintura, ouvi sua voz dura a espancar-me com palavras cruéis. Eu estaria, ao seu olhar, mostrando um lado irresponsável; a estragar um material caríssimo, que me comprara com tanto carinho. Ouvi calada, as ofensas. Ah! E, foram tantas!
<br />
<br />Algumas lágrimas ameaçaram rolar, à simples lembrança daquele momento.
<br />
<br />- Muito aborrecido, desligou a televisão e foi para a cama, ainda a vociferar, contra mim! Não o acompanhei, como sempre fazia. Sim... somente depois que o percebia a dormir, levantava-me para pintar pela madrugada adentro. Mas, após aquela imprevista e pungente agressão verbal, optei por permanecer no atelier. Uma dor singular magoava meu peito... sem que pudesse evitá-la. Adjetivos severos ecoavam nos meus ouvidos. Que brutalidade! Meu fiel admirador...
<br />
<br />Enxuguei o rosto, sorumbática.
<br />
<br />- Sentei-me naquele mesmo banquinho e deixei as lágrimas descerem, livremente... Meus olhos não se desgrudavam da imensa tela... E, o pior... namoravam o que viam... gostavam muito!... Não sei dizer por quantas horas ali permaneci, somente a vigiar...
<br />
<br />Meu pensamento, nostálgico, voou até aquela madrugada distante em Copacabana...
<br />
<br />- Era quase dia quando me levantei e fui até a geladeira. Nada de guloseimas, nada de água! Ansiava por outra coisa! Num ímpeto, arranquei-lhe uma das grades de suporte aos alimentos e, como uma ladra, que ataca na madrugada, voltei correndo para o atelier. Sem pensar muito, assentei o quadro no chão, de costas. Posicionei a grade no espaço vazio, inundando-a de cola, que se misturava às lágrimas que rolavam dos meus olhos. Depois, na falta de aparato melhor, coloquei três ou quatro latas de tinta e alguns livros de pintura, pesados, sobre aquela coisa toda, para que a grade pudesse fixar-se, por inteiro. Cobri tudo com outras telas. Somente, então, fui para a cama. Rolei de um lado para o outro. Queria amor, muito amor... mas naquela noite, como em tantas outras, adormeci com a solidão da minha arte.
<br />
<br />Ao compreender-me a dor, Rosa interferiu:
<br />
<br />- Não precisas contar-nos isso, se te faz sofrer...
<br />
<br />- Não quero calar. Por favor, ouçam-me! Eu preciso falar, Rosa. Não sei a razão, mas preciso!
<br />
<br />E continuei:
<br />
<br />- Quando meu marido levantou-se para trabalhar, fingi que dormia. Medo da sua fúria, quando percebesse a falta da grade na geladeira. Nada ocorreu, entretanto. Mal ouvi a fechadura da porta ser trancada, levantei-me e corri para o atelier. Tudo molhado, ainda! Teria que esperar muito tempo, pelo peso da grade. E, agora, o que faria? Não tinha outra coisa a fazer, senão contar com a sorte.
<br />
<br />Poetrix voltou, com as orelhinhas ainda mais caídas sobre o rosto, a testa (cães possuem testa?) enrugada.
<br />
<br />- Uma noite. Duas noites. Três noites se passaram, desde o incidente. E, nada! A cola não secava! Iniciava-se a quinta noite e, na sala, meu marido assistia televisão. Entrei no atelier, ainda temerosa. Parecia seco... Ergui o quadro, como se acordasse um amor que, por muito tempo, estivesse adormecido... Observei-o, sempre em silêncio... Ofegava... Mas... mas... ainda não era aquilo que eu desejava!.. Passei os olhos pelos quatro cantos do ambiente e um pedaço de espelho chamou-me a atenção. Apanhei-o e, com certa dificuldade, prendi-o por detrás da grade da geladeira. Oras, deveria ter feito o mesmo com a grade! Bastaria tê-la costurado à tela! Tanto tempo e tantos medos teriam sido evitados! Bem, de que adiantaria desgastar-me, naquele momento, a imaginar o que poderia ter realizado?
<br />
<br />Balancei a cabeça de um lado para o outro, criticando-me, pelo passado...
<br />
<br />- Mais uma vez, ergui aquele monumento. Encostei-o a uma das paredes. Um pouco de cola, ligeiramente amolecida, arranjara-se num dos cantos do recorte, com um certo charme... Admirei-a, agradecida...
<br />
<br />Poetrix e o jardim inteiro prestavam atenção a todos os detalhes do meu relato. Rosa, em especial. Engraçado... nunca poderia imaginar que fossem interessar-se por ouvir a respeito do nascimento de um quadro!
<br />
<br />- Criei coragem e chamei meu marido, que não falava comigo desde aquela noite cruel. Demorou em levantar-se do sofá, mas veio. Entrou no meu ambiente encantado, como chamara carinhoso, até então. Quando na posição correta o quadro, o rasgo ficava na altura do seu rosto. Pedi-lhe, com afeto, que se aproximasse para olhar a grade de frente. Ao fazê-lo, enxergou-se ao espelho, preso atrás das grades. Eu, liberta, observava-o em silêncio.
<br />
<br />Naquele momento, Carlos percebia o significado da Arte na minha vida: corajosa liberdade! Uma lágrima rolou pela sua face - agora liberta - e, a soluçar perdão, abraçou-me. Nunca mais interferiu no meu processo criativo.
<br />
<br />Calei-me. Rosa permaneceu em silêncio. Todos silenciaram. Tudo silenciou, até o meu passado.
<br /><center><table style="FILTER: shadow(color=#DAA520)" width="600" align="center">
<br /><td width="794" align="center"><p align="center" style="margin-top: 0; margin-bottom: 0"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjSYKPQlBsasc9IgiqncGHLGChUk0YKoKghzfSH5YTEMef_8qs8HhGGIix5F6Qx8x9el3oN9PnRTdCNLFfY9hCbds2OJzhz51euHxsAnXoevJrus8zREfZnnfrX9rSxCbkSoemN0xyWDZ4/s1600-h/sil001-notivaga-2.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 151px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjSYKPQlBsasc9IgiqncGHLGChUk0YKoKghzfSH5YTEMef_8qs8HhGGIix5F6Qx8x9el3oN9PnRTdCNLFfY9hCbds2OJzhz51euHxsAnXoevJrus8zREfZnnfrX9rSxCbkSoemN0xyWDZ4/s200/sil001-notivaga-2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5451966355108913682" /></a>
<br /></table></center>
<br /><font color="#FFFFFF" size="2">MOTA, Sílvia. Freiheit I. 1994. Original: 1,50m x 2,00m. Acervo da pintora.</center>
<br /><font color="#FFFFFF" size="2">Exercício pictórico: busca por texturas diferentes inspirada, inicialmente, na radiografia do pé esquerdo da autora.
<br /><font color="#FFFFFF" size="2">A foto não evidencia os detalhes, mas, decorridos tantos anos, a textura alcançada ainda se apresenta com a aparência úmida, que lhe oferece um aspecto estranho: a determinados olhares, pele de cobra; a outros, parede de prisão.
<br /><font color="#FFFFFF" size="2">Processo criativo múltiplo, materializado sob a forma de técnica mista: choque entre tintas acrílica, tintas à óleo, betume e cola; gesso trabalhado ao efeito de espátulas; colagens de papel, correntes e moedas; banho de parafina derretida finalizado, aleatoriamente, por exposição ao sol. Detalhe: grade de ferro arrancada de geladeira, superposta a espelho.
<br /><font color="#FFFFFF" size="2">Esta pintura foi inserida na categoria de expressionismo abstrato.
<br /><font color="#FFFFFF" size="2">A obra integrou as seguintes exposições:
<br /><font color="#FFFFFF" size="2">2000 Universidade Estácio de Sá. A prata da casa. Campus Tom Jobim. Rio de Janeiro.
<br /><font color="#FFFFFF" size="2">1995 Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Exposição do Núcleo de Aprofundamento em Pintura de 1994. Rio de Janeiro. Título das obras expostas: Freiheit I, Freiheit II.
<br />
<br />Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz.Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Pazhttp://www.blogger.com/profile/09248745027360598811noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4503350062648940349.post-38878347218977913502010-03-18T14:47:00.000-07:002010-08-06T19:57:22.006-07:00O jardim e a poeta - Fábula - Episódio nº 2: Hoje, só consigo chorar!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAurdGgedezYmoGvssUghVfJ83bptGJsp6Xkk2kSclWsE3LfJ03eSTeayV85SJvx35XyYdXPTmeeJbSAWWC6Ud2PEqQV6eWMjEmUCz5NIw2MdDqdckS96YNB9Z6I8-bfKJwcO2Td-_0Gq1/s1600-h/ojardimeapoeta-assinatura.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 284px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAurdGgedezYmoGvssUghVfJ83bptGJsp6Xkk2kSclWsE3LfJ03eSTeayV85SJvx35XyYdXPTmeeJbSAWWC6Ud2PEqQV6eWMjEmUCz5NIw2MdDqdckS96YNB9Z6I8-bfKJwcO2Td-_0Gq1/s200/ojardimeapoeta-assinatura.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5450094454659221938" /></a><br /><br />- Psiu! Poeta! Que lágrimas são essas, a escorrer-te pelo rosto?<br /><br />Fingi que não ouvira. Por hoje, não desejava espalhar sorrisos, poemas sensuais ou, simplesmente, poemas de amor ou de paz. Nada disso, hoje! Queria silêncio. Somente eu, o meu jardim e um fundo musical, Autumn Rose, executada ao piano, por Ernesto Cortazar.<br /><br />- Poeta! Não ignores meu chamado!<br /><br />Permaneci em silêncio, simulando-me ocupada em ligar a bomba d’água, localizada ao fundo do quintal. Depois, recolhi as lingeries coloridas e secas, que dançavam ao vento, enfeitando o varal.<br /><br />- Poeta! Não sejas mal educada!<br /><br />A voz continuou insistente. Reconhecera o chamado, mas não estava com vontade nenhuma de conversar com a rosa mais bonita do meu jardim. Aliás, sua beleza, sensualmente vermelha, naquele momento, incomodava-me muito!<br /><br />- <b>P-O-E-T-A</b>, responda-me!!!<br /><br />Nossa! Que voz enérgica, aquela! Assustei-me e respondi:<br /><br />- Oi, rosa! Perdoa-me, mas estou triste, muito triste...<br /><br />- Não precisas dizer-me. Percebo as lágrimas que não param de rolar, desde que adentraste o jardim. Ouvi teu choro, logo pela manhã. Tive a impressão, de que choraste enquanto dormias, também...<br /><br />- Ofenderam-me, rosa... ofenderam-me, tanto! murmurei, num fio de voz entrecortado por choro convulsivo.<br /><br />A voz da rosa suavizou-se.<br /><br />- Vem! Senta-te aqui, ao meu lado!..<br /><br />Relutei. Não queria expor meu sofrimento, nem para a Natureza.<br /><br />- Mas, que orgulho é esse? Que vergonha existe em chorar, minha menina?<br /><br />A bela flor parecia envolver-me ao veludo das suas pétalas, por tão suave aquele chamado!<br /><br />Aproximei-me, ainda indecisa...<br /><br />- Mas, antes de iniciarmos nossa conversa, quero um beijo teu.<br /><br />Um tanto quanto desanimada, sentei-me na relva macia e beijei a rosa, que fez muxoxo, a demonstrar que não apreciara aquele beijo sem gosto. Ajeitei a saia longa e muito azul, entre as pernas, mas permaneci calada, com o olhar perdido por entre os espinhos da haste que sustentava minha bela rosa.<br /><br />- Observas meus espinhos... Embora nascidos para proteger-me, machucam-me também, sabias? Aos vendavais, cuido-me!<br /><br />Uai! Nunca imaginara a possibilidade de uma rosa ser fisgada pelo próprio espinho! Como se advinhasse meu pensamento, a rosa pronunciou:<br /><br />- Pela beleza das minhas pétalas, pareço-me contigo e meus espinhos aproximam-se das palavras que fluem da tua poética. Podem ferir aos outros e a ti mesmo, em decorrência...<br /><br />Arregalei os olhos, surpresa! Lá estava a rosa, a desvendar-me a dor!<br /><br />- Não há motivo para espanto! Até quando precisarei repetir que tudo sei a teu respeito? Agora, por exemplo, não consegues conter essa dor, que te escorre pelo rosto... Esse rosto que, aos efeitos da ordem natural, deveria apresentar-se mais envelhecido, pelos anos que carregas e pela experiência vivida.<br /><br />- Mas, isso não ocorre... Dizem que, para a minha idade, ainda exibo aparência jovial! Genética, sorte ou pecado?<br /><br />Pensei que, talvez, somente eu soubesse a razão essencial daquela pergunta. Mas, a rosa não titubeou em respondê-la:<br /><br />- Geneticamente, considero-te santificada pelas forças da natureza que uniram teus belos e saudáveis pais. Pela sorte, és nada mais nada menos do que o resultado das causas boas que realizaste pela vida afora. Causas e Efeitos, que se refletem na tua aparência física. Quanto ao pecado, encontra-se apenas nos olhares de determinadas pessoas, não em ti. Nesta seara és, simplesmente, o que a natureza fez ou faz de ti.<br /><br />Cabisbaixa, intuí que a rosa me sabia por completo, mesmo! Então, expus a solidão daquele momento.<br /><br />- Ahnnn! Que dor essa que avassala meu peito! Querida Rosa... ops! posso denominar-te Rosa, minha querida rosa?<br /><br />A rosa sorriu feliz pelo batismo inesperado e agradeceu-me, toda encarnada!<br /><br />- Rosa, queria segredar-te que, em razão disso – e, exatamente, por este pecado - hoje, eu preciso chorar! Minha alma anseia por este alento, o coração soluça. Veja-me as mãos, trêmulas... Desde a noite passada, descrevem a dor que me invade, a sufocar os poros, um a um! Preciso respirar e necessito fazê-lo através das palavras, companheiras que sabem acompanhar meu lamento...<br /><br />Rosa manteve-se calada. Sabiamente, calada.<br /><br />- A ofensa à qual me refiro, faz-me recordar momentos passados, guardados na história da minha vida... Como podem agredir uma pessoa, mesmo que o seja através de palavras, sem ao menos conhecê-la?<br /><br />Meu cão aproximou-se, para receber carinho. Afaguei-o. Encostou-se aos meus pés, na esperança de descobrir o que me fazia chorar, desde cedo.<br /><br />As lágrimas não estancavam! Pareciam sangue liberto em corte profundo! Nenhuma folhagem do jardim era suficiente para enxugar a agonia daquele pranto!<br /><br />- Reconheço que fui e ainda sou uma guerreira que atravessa a vida, indócil e forte! Nada me chega fácil, a não ser o sorriso nos lábios, a Fé e o Amor no coração!<br /><br />- Oras... e do que mais necessitas? Qual riqueza é maior do que o dom da Vida e a certeza do dever cumprido, honestamente?<br /><br />Nada respondi. Apenas observei o céu, para além do meu quintal... O sol não aparecera, mas o dia estava muito quente! Pedi licença para tomar um copo de água bem geladinha e aproveitei para molhar, rapidamente, as rosas todas! Exultaram de alegria, balouçando-se nas hastes verdinhas! Rosa pareceu-me ainda mais bonita, com aquelas gotinhas de água a luzir-lhe pelas pétalas aveludadas! Sua beleza agradava-me, outra vez... Poetrix, enciumado, trouxe-me a mangueira d’água, para também ser refrescado.<br /><br />- Nossa, como és bonita, Rosa! – exclamei, realmente impressionada por tanta beleza!<br /><br />- Obrigada. És muito bonita, também... respondeu-me, timidamente.<br /><br />Mas, nada, nada me faria sorrir, naquele momento. Nem mesmo a beleza esfuziante de Rosa! Uma tristeza infinita dominava-me.<br /><br />- Não fujas de ti mesma! Em quais momentos, da tua vida, encaixam-se as lágrimas teimosas que insistem em turvar-te a vista? Por quê choras, com tamanha dor? Tão forte, tão bela, que és?!!!<br /><br />- Sabes... sabes a razão, que sei! Choro, minha Rosa querida, porque não compreendo a violência como algo natural. E essa realidade ainda atinge minha essência humana.<br /><br />Rosa silenciou e continuei meu devaneio.<br /><br />- Tenho consciência de que, às vezes, pela força do meu verbo, sou mal compreendida. Erro, frente à comunicação com o mundo exterior? Não sei... mas, quedo-me a pensar e a analisar meus atos.<br /><br />- És louca! Viraste a madrugada a reler os poemas expostos naquele website, além de alguns comentários realizados aos teus escritos e outros mais que realizaste aos textos lá expostos!<br /><br />- É verdade. Li e reli inúmeros, inúmeros comentários! Por data, busquei alguns, especificamente! Minha memória, neste sentido, surpreendeu-me!<br /><br />Rosa galhofou: - No mais, vives à procura de tudo, o tempo todo, chegando a culpar Poetrix, pelos sumiços! E, o pobre do motorista? Necessita desdobrar-se em mil homens, para que cumpras os compromissos nos devidos horários! Sair de casa é um transtorno! Ou são as chaves, ou o celular, ou os óculos, ou lap-top, ou o controle remoto do alarme de segurança... Nossa! E os brincos e batons, que o obrigam a retornar, quando já próximos do destino? Chega a ser hilário! Esqueces, tudo!<br /><br />- Ando, mesmo, muito esquecida... Durmo pouco e isso atrapalha-me. Mas, quanto aos comentários, lembro-me de todos! Talvez, porque não sejam levianos - como anunciado, de forma textual e irresponsável, por um poeta, em outra oportunidade - mas nascidos da minha sinceridade e dos poucos conhecimentos que amealhei pela vida.<br /><br />Parei, por um instante, a relembrar os poemas e comentários dos meus queridos poetas... Após alguns segundos, retomei minha conversa com Rosa.<br /><br />- Esquadrinhei falhas, erros meus! Busquei manifestações escritas, que pudessem ter gerado pensamentos dúbios. Enveredei-me pelos detalhes, esburaquei-me, por inteiro, no afã de descobrir um dito mal dito! Cruel comigo mesma, atravessei a noite. Cuidadosa, ignorei quem era a vilã em foco! Persegui-me, pela madrugada inteira! Mas, nada encontrei, ao meu olhar, que indicasse pecado ou ofensa a terceiros, ou ainda, que justificasse a indelicadeza à qual fui exposta.<br /><br />- Somente ao clarão do dia conseguiste adormecer... percebi tua aflição.<br /><br />Passei as costas da mão direita no rosto, para enxugar mais lágrimas.<br /><br />- Não obstante, após o breve descanso da manhã, liguei o computador, reli e chorei! Desabei, Rosa querida!<br /><br />Aproximei-me da roseira, como se estivesse a pedir-lhe colo protetor. Precisava!<br /><br />- Trago perseguições do passado, que se repetem no presente. E eu, que cominei à minha bela aparência física ou aos meus sorrisos fáceis, de outrora, a responsabilidade pelo mal juízo que algum dia se fez a meu respeito!<br /><br />- Em conseqüência, por tanto tempo escondeste teus poemas! Medo de ser mal interpretada! Medo de que te achassem leviana!<br /><br />- Quantos medos inúteis! Demorei a superá-los. Busquei muitas leituras, nas quais prevalecesse a sensualidade. Veja... veja quantas coisas bonitas encontrei no meu garimpo poético!<br /><br />Levantei-me. Parecia outra mulher, então! Ajeitei a saia longa que, devido ao calor enfiara-se, grudenta, entre as pernas roliças.<br /><br />- Em Safo, a “Vênus de Lesbos”, grande poetisa da Antiguidade, li as mais belas canções de amor sensual. Escuta este, que por tamanha beleza declamo-te, por inteiro!<br /><br />Descerradas as cortinas dos ventos, à minha imaginação, soltei a voz para um Universo sem preconceitos:<br /><br />"Contemplo como o igual dos próprios deuses<br />esse homem que sentado à tua frente<br />escuta assim de perto quando falas<br />com tal doçura,<br /><br />e ris cheia de graça. Mal te vejo<br />o coração se agita no meu peito,<br />do fundo da garganta já não sai<br />a minha voz,<br /><br />a língua como que se parte, corre<br />um tênue fogo sob a minha pele,<br />os olhos deixam de enxergar, os meus<br />ouvidos zumbem,<br /><br />e banho-me de suor, e tremo toda,<br />e logo fico verde como as ervas,<br />e pouco falta para que eu não morra<br />ou enlouqueça."<br /><br />Ahnn! Que beleza! As árvores destacaram-se do solo, aproximando-se, para ouvir-me melhor. Libertas, as raízes esqueceram-se dos problemas nas articulações e engalfinharam-se, umas com as outras, na tentativa de desembaraçarem-se para enxergar-me, corpo inteiro! Desse frenesi, soltaram-se algumas gotinhas de seiva, que escorreram pelo meu colo bronzeado! Eu uivava pelos ares, em êxtase! Todos, aplaudiram-me! Rosa, na sua majestade, exalou um perfume delicioso! Encantada, pediu-me mais!<br /><br />- Em 1888, Laura Chaves, em Lisboa, desvendou ao mundo a força da palavra! Em seu “Volúpia” poetizou, em tom forte para a época, as mágoas do amor que se fora: “Tudo quanto há de mau em mim gozou...” Florbela Espanca, por sua vez, presenteou-me com os mais belos sonetos de amor, que rompem aos borbulhões da sua alma apaixonada. Queres ouvir parte de um deles?<br /><br />Rosa farfalhou as folhas todas da sua haste, num sinal de assentimento!<br /><br />- Eis as duas últimas estrofes do seu “Supremo enleio”, escrito em 1894:<br /><br />“Mas eu sou a manhã: apago estrelas!<br />Hás de ver-me, beijar-me em todas elas,<br />Mesmo na boca da que for mais linda!<br /><br />E quando a derradeira, enfim, vier,<br />nesse corpo vibrante de mulher<br />será o meu que hás de encontrar ainda...”<br /><br />A esta altura, até um arco-íris aparecera, a cortar o céu, de ponta a ponta! E, dezenas de potes de ouro faíscavam, pelos cantos do meu jardim!<br /><br />- De outras escritoras, muito li e admirei-as, à euxastão, até convencer-me de que a maldade encontra-se no olhar de quem deseja enxergá-la e não nos meus poemas.<br /><br />- Vives na contemporaneidade. Outros, sucumbem até mesmo ao passado distante! É assim, mesmo... lamentável!<br /><br />- Rosa, releio aqueles comentários ofensivos e não me conformo! Em vão, todas as batalhas, pela arte livre?!!!<br /><br />- Não! Não deves realizar esta leitura! Considera o evento como algo fora do normal! Pois assim o é!<br /><br />- Choro, ainda... Não quero segurar o pranto, pois sinto a pureza da minha vida no gosto salgado das lágrimas que correm!<br /><br />- Choras, porque, embora triste, sentes o gosto do pensar liberto! Até então, alguns pensamentos antigos, aninhavam-se pelo teu cérebro!<br /><br />Convicta do que dizia, Rosa continuou:<br /><br />- Choras, poeta, pelas lágrimas inúteis do passado e sentes o eflúvio da libertação! Liberas da culpa de estimular a maldade alheia, toda aquela beleza natural e os sorrisos fáceis e brejeiros que a acompanhavam! Sorrirás em paz, agora!<br /><br />- Tomara, Rosa, tomara! Retiro pontos positivos de tudo o que acontece comigo, mas, desta vez...<br /><br />A rosa interrompeu-me:<br /><br />- Poeta, qual o teor dos comentários? Por que não os divulgaste e aos seus autores, para que todos possam, também, precaver-se contra tais malfeitores?<br /><br />- Pensei muito, Rosa. Optei por tornar invisíveis, aos demais olhares, as ofensas. Desde que não se repitam, serei fiel a este pensamento. Prefiro não divulgar o nome daqueles que deflagraram a vertente das minhas lágrimas. Não permitirei que se promovam através da menina pura dos meus olhos! Existem outros caminhos de ação, assim, assim...<br /><br />- Sábia, minha menina, que sem ser flor, o é!<br /><br />Uma brisa suave começou a dançar, levando ao seu ritmo algumas folhas secas pelo chão. Meu pensamento voejava! Qual a razão de tanta dor? Por quê tanta fragilidade, frente a dois ou três comentários, vindos de mentes desconhecidas? Precisava entender melhor, tudo aquilo.<br /><br />- Rosa, a força da minha escrita é coisa antiga. Bem jovenzinha, acabei por levar uma boa surra da minha mamãe, em razão de uma carta escrita para um amor proibido. O romance fora interrompido pela rigorosidade apaixonada do meu pai! Márcio foi meu primeiro e poético amor! Vigiada, pelos quatro cantos da casa e pelos caminhos que me levava ao colégio, despejava as dores daquele amor meio Romeu e Julieta, por inúmeras folhas de papel, cuidadosamente escondidas entre os livros que fingia ler! Mas, meu irmão Miguel, fidelíssimo à mamãe, viu o papel dobrado cair do meu bolso, na hora do almoço. Apanhou-o, lépido. Não sei, até hoje, se leu ou não o que eu escrevera. Sem perceber a falha, lembro-me, tão somente, que fui retirada da mesa, sob a cruel sentença: “Você não é mais minha filha!” O cerco apertou-se. Quase não podia respirar, sem ter alguém do meu lado!<br /><br />Engraçado... Acho que Rosa não conhecia aquele episódio... Franziu suas pétalas, até ficar toda enrugada. Depois, sacudiu-se na haste, em reprovação ao que acabara de ouvir. Manteve-se, contudo, calada.<br /><br />- Tranquiliza-te, Rosa! Não guardo mágoas! Vivíamos em época muito diferente e minha escrita, afoita, incomodou os ouvidos da minha querida mamãe! Sabes qual era o teor da missiva, que jamais seria entregue?<br /><br />Rosa, ainda calada, demonstrou que desejava saber a origem do meu crime.<br /><br />- Escrevi, mais ou menos, assim: “Pouco importa que me separem de ti. Separarão nossos corpos, somente! Jamais te esquecerei! E, se rasgarem meu peito com um punhal, encontrarão no meu coração, teu nome ali, gravado em sangue!” e, após desfiar um rosário de paixões, finalizava o texto com a seguinte pérola, demais para a época, em particular, para a verve de uma doce jovem, virgem e inocente: “Para quem guardo virgem, este meu corpo?”<br /><br />Senti até uma vontadezinha de rir, naquele momento, mas a tristeza falou mais alto. Rosa não se conteve e soltou uma sonora gargalhada, que acordou um lindo botão de rosa, recém-nascido... Prestimosas, as outras rosas correram a niná-lo. Rosa desculpou-se.<br /><br />- De outra feita, ainda pelos meus 17 anos de idade, fui ao cinema com meus pais, na última sessão da noite. Maior prova, de que me consideravam, enfim, uma adolescente! Cinema lotado! Não conseguimos três lugares, juntos. Meu pai acomodou-me e sentaram-se atrás, para defender-me de ataques clandestinos. Lá pelas tantas, Richard Burton, na pele de um padre – portanto, proibido de amar as mulheres – olhou firmemente para Elizabeth Taylor e, cheio de desejo, expressou seu devastador sentimento. Nossa! Fui ao delírio! Nunca vira nada igual! Naquele exato momento, escutei mamãe dizer, nervosa, para o papai: “Esse filme é muito forte para Sílvia!” Essa observação somente aumentou meu enlevo, pois durante anos sonhei com aquela voz gutural do belo herói, a indicar o sujeito dos seus mais fogosos sentimentos: “You!” Uma palavrinha só, bastou para atiçar minha fantasia adolescente! Quantos contos escrevi, então! Todos, escondidos, claro!<br /><br />Rosa fitou-me com tal profundez, que fiquei a imaginar se minha querida flor sentira desejo algum dia! Mas, frente aquele mistério, continuei.<br /><br />- Isso, sem contar que li, por inteiro, o livro “A carne”, de Júlio Ribeiro, de um susto só, no Curso Normal, em sala de aula, a escondê-lo sobre as pernas, por debaixo da carteira. Livro proibido, não teria como levá-lo para casa. Emprestei-o na biblioteca municipal e teria que devolvê-lo na hora do almoço, à saída das aulas, porque nada fugia ao olhar vigilante de mamãe. A leitura foi pesada, realmente, para a minha idade. A descrição da estátua de Agasias, conhecida pelo nome de <i>Gladiador Borghese</i> e a loucura que despertara na jovem e sensual Lenita, provocou-me grande impacto e muitas fantasias.<br /><br />- Indiscutível... a sensualidade sempre esteve presente na tua natureza feminina.<br /><br />- Sim, mas de forma muito poética e sonhadora...<br /><br />- Como teus poemas atuais...<br /><br />- Sim... Hoje, compreendo que captava a sensualidade de tudo! À época, não sabia nem o que era isso!<br /><br />Rosa fitava-me com carinho, procurando captar os meandros daquela alma, nos seus próprios dizeres, “encantadoramente sensual e pura”.<br /><br />- Meu primeiro marido não conheceu a poeta de mim. Preocupava-se em exibir minha beleza pelas ruas e praias do Rio de Janeiro... Por tanto amá-lo, acho que me transmutei em poesia viva, aos seus braços! Mas, não creio que me tenha percebido desta forma.<br /><br />Naquele instante, senti uma tristeza diferente. Pensei nos anseios efêmeros, que não se sustentam às adversidades da vida. Paixões, na realidade. Ato contínuo, o segundo marido invadiu-me a lembrança. Esse... ah! quanto temia minha sensual beleza, que o atraía e afastava, ao mesmo tempo! Tratava-a como inimiga número um! Em consequência, repelia meus poemas. Admirava, recusando-os! Insegurança, só. Amargura doentia, aquela relação! Desejei não ser bela e, por muito tempo castiguei meu corpo, erradamente, pela minha desdita no amor! Queria ser amada pela beleza interior que ostentava! Quanta bobagem! Eca!!! Ligeira, afastei aquilo tudo do meu pensamento. Passado e ponto final.<br /><br />- Rosa, expus esses fatos somente para explicar-te a origem da sensualidade dos meus poemas. É inerente à minha vida, não tenho como evitá-la! Mesmo assim, não suporto ser mal interpretada! Sofro, muito!<br /><br />- Por tal motivo, choraste tanto com o teor dos tais comentários... que ainda não revelaste...<br /><br />- Sim, afoguei-me ao passado, quando ainda não compreendia minhas emoções e, portanto, não possuía argumentos para defender-me!<br /><br />- Mas, Poeta, sabes agora que despertaste aqueles pensamentos perniciosos (inveja?) em razão da tua livre e bela escrita! Viveste numa época em que inteligência somente se coadunava às mulheres feias! Como derrubavas este mito, tua beleza era maltratada sob a forma de leviandade! Os que reprimiam os próprios sentimentos, atacavam-te! Provocaste a ira de tantos, pela forma sincera de revelar o que pensavas e pelo rigor que imprimias à tua vida particular. Um contraste muito louco, difícil, mesmo, de ser compreendido! E, o mais interessante, é que até hoje trazes esta característica! Poeticamente livre, mas tão difícil de se permitir alcançar como mulher!<br /><br />- Não é bem assim, Rosa... Apenas, sou conquista de momentos encantados e nem todos dispõe-se a esse deleite...<br /><br />A linda flor sorriu, a murmurar baixinho: - És a personificação da Poesia...<br /><br />- Mas, sou realidade, também! Sempre passei ao largo dos caminhos mais fáceis para a sobrevivência; sempre busquei os mais difíceis, conquistados ao sabor do esforço individual!<br /><br />- E, por isso mesmo, a intensa luta travada fez e ainda faz cansar o pensamento daqueles que, angustiados pelas infelicidades próprias, satisfazem-se à mera tentativa de destruir-te a coragem ou obstruir-te o talento, através de ofensas individuais e descabidas, ditas ao sabor do vento!<br /><br />- Ah! Rosa! Por quê, isso, agora? Quanto lutei para não perder minha individualidade de fêmea e minha identidade poética e artística!<br /><br />- Ainda não revelaste o teor dos comentários...<br /><br />Queria falar, mas não conseguia... Talvez, vergonha de repetir aqueles absurdos! Mas, enfim, tomei coragem!<br /><br />- Rosa, foram três comentários, escritos por duas pessoas diferentes.<br /><br />- Ao primeiro...<br /><br />- O primeiro dizia assim: “Quero te conhecer e fazer muito amor com você.me mande vum email.” - Num rompante de raiva respondi-lhe, sem pestanejar: “Idiota, aqui, também?!!!” - Ele retornou, em nível muito baixo: “Calma, baiana! que p...de poetiza,é você,meu?pena...é uma bela mulher,viu?procure escovar os dentes,tá?” - Achei por bem, não mais responder.<br /><br />Calei-me, entristecida.<br /><br />- Dias atrás, a mesma pessoa enviou-me outro e-mail, no seguinte teor: “Sra.venho, agora, pedir-lhe que por favor, perdoe minha grosseria anterior.É uma mulher bela e talentosa.Continue assim, e que deus lhe proteja. Mais uma vez,perdoe-me (se puder)sejamos amigos.Leia meus textos e me escreva.Abraços.” Confesso-te, Rosa, que até o momento, não consegui ler nenhum texto deste senhor. Quem sabe, daqui a algum tempo...<br /><br />- Agora, vamos aos últimos comentários, que mais te magoaram.<br /><br />- Ah! Rosa!.. Levei um susto pelo vômito derramado na minha caixa de correio. E, eu que pensei que nada mais me afetaria, neste sentido!<br /><br />- Nosso coração, por vezes, surpreende...<br /><br />- Diga-me, se não tenho razão de sofrer. Foram dois comentários seguidos. Melhor destacá-los:<br /><br />O primeiro: “Muito bem... meu amor, você é rica. Então pode ter o gigolô poeta que quiser. Eu, como sou pobre, só posso ter um monte de véia de 70/80 anos. É a lei do Brasil, e dos paises do 10º mundo. Abraços.”<br /><br />O segundo: “Como eu abomino... velhas de mais 45 anos deixo você pra algum vagabundo que não quer trabalhar. Porque eu, apesar de coroa, trabalho e não estou interessada em velhas de 60 anos.”<br /><br />Quase não consegui chegar ao fim do último comentário, pois um soluço doído rompeu da minha garganta e as lágrimas voltaram a rolar pelos meus olhos.<br /><br />- Interpretada como uma velha que passa as noites a aliciar poetas gigolôs! Pôxa, Rosa... Tanto eu quanto meus amigos poetas fomos ofendidos!<br /><br />Soluçava, incontida!<br /><br />- Oras, poeta, sabes que tua idade ostenta o orgulho de ter vivido com tamanha intensidade!<br /><br />Angustiada, interrompi minha bela flor.<br /><br />- Mas, Rosa, cheguei a este momento, honrada e criativa! Honesta e viva! De onde esse homem retirou tanta maldade? Quais os parâmetros utilizados, senão a leitura deturpada da minha poética? Nada conhece das minhas lutas, pela vida afora!<br /><br />- Poeta, reflita! Não te ofendeste pelo fato de ser jocosamente chamada de “velha” e, nem ao menos, por ter sido vista como um animal desembestado que sai pela Internet à procura de casos sexuais...<br /><br />Descontrolei-me, aflita!<br /><br />- Rosa! Nada encontra respaldo fático! Nada! Mantenho-me íntegra, como poucas pessoas podem afirmá-lo, de cabeça erguida!<br /><br />- Sei disso, mantenha a calma! Tens um brilho próprio que ofende aos indivíduos perniciosos à sociedade! Várias pessoas já se referiram a isso, mas ainda não compreendeste...<br /><br />- Lembra-te daquele meu escrito: “Não confunda mulher bonita e livre com mulher disponível; mulher sensual com mulher leviana e, muito menos, que meus olhos verdes querem dizer sinal aberto”? Embora nascido ao sabor da emoção, no ano 2002, o texto ainda é atual.<br /><br />- Lembro-me, sim... Aliás, acho o texto adorável! respondeu, num sorriso maroto, minha flor predileta.<br /><br />Silenciamos... Numa fração de segundos, Rosa quedou-se muito triste, como se estivesse a recordar alguma coisa... Nada ousei falar. Depois de algum tempo, profetizou:<br /><br />- Que não se orgulhem de fazer-te mal aqueles que a isto se prestam! Nenhuma ofensa pessoal motiva teu choro, neste momento. A razão das tuas lágrimas encontra-se mais além. Vagueia na capacidade que desenvolveste de entrever a força da infelicidade na vida de determinados indivíduos! Por assistir a falta de respeito que ostentam pelo próximo, chegas às lágrimas. Choras e choras e choras, por assistir o extravasar do desamor, feito sem querer ou propositalmente (quem saberá?)<br /><br />Eu precisava ouvi-la!<br /><br />- Ah, Poeta! Fico a pensar que se todos os filhos do mundo respeitassem todas as mães e vice-versa, teríamos um mundo diferente: mais humano, mais ético, mais repleto de pessoas que se respeitariam umas às outras! Atitudes passageiras, originadas em rompantes raivosos da personalidade, seriam evitadas.<br /><br />- Rosa, interpretações precipitadas realizadas somente ao eixo das vivências pessoais provocam erros crassos, porque as pessoas não são iguais.<br /><br />- Sim, é real. Não temos o direito de ofender ao semelhante, por achá-lo pernicioso como nós. Se colocamo-nos através da escrita e da leitura é necessário aprender a escrever e - u-r-g-e-n-t-e-m-e-n-t-e - aprender a ler e a interpretar a escrita dos demais! Além do que, Poeta, se enfrentamos problemas relacionados aos sentimentos de perseguição, o tempo todo, médicos existem para ajudar-nos! Difícil viver, imaginando-se perseguido!<br /><br />Rosa parecia conversar consigo mesma.<br /><br />- Impressionante é que os fatos se repetem, continuadamente... Sob nomes diferentes, atitudes iguais. Por quê? Qual a razão desse Ódio e desse Desamor?<br /><br />- Confesso-te, Rosa, que não consigo desejar mal a quem me provocou essas lágrimas.<br /><br />- Talvez, tua missão seja outra, nesses casos...<br /><br />- Rosa, será que é tão difícil entender que eu só pretendo mesmo é contribuir, através das minhas ações e da minha poética, para suavizar corações carregados de tristeza, ou, para embelezar, mais ainda, aqueles esculpidos aos efeitos da alegria e do respeito humano?<br /><br />Rosa enxugou algumas gotinhas de orvalho...<br /><br />- A exposição dos meus poemas nada mais é do que o resultado do esforço diário da poeta, musicista e artista plástica! União de tudo! Novo aprendizado, que desafio!<br /><br />- Eu sei. Permaneces pela madrugada afora, a escolher cada imagem, carinhosamente...<br /><br />- Tudo, para iluminar os olhos e o coração de quem lê minhas criações... Nada mais do que isso! Nada mais!<br /><br />- Como seria bom que o Ódio traiçoeiro não mais se exibisse, tão aventureiro!<br /><br />Rosa continuou pensativa. Mas, a sabedoria emprestada pela Natureza, permitia-lhe não me plantar nenhuma revolta! Ao contrário, despertava-me para a piedade.<br /><br />- Os indivíduos, no meio social, atrapalham-se todos, magoam-se facilmente! As traições são tantas, que, a todo momento, imaginam-se perseguidos. Por tal razão atacam. Deves perdoá-los...<br /><br />- Perdoo aos doentes que desejam a cura! Aos demais, aconselho que suavizem os sentimentos, estudem mais e busquem a própria forma de felicidade, sem ofender ao próximo!<br /><br />- Poeta, nem todos foram criados sob os efeitos do Amor, assim como tu! Compreenda isso, de uma vez por todas!<br /><br />- Rosa, se a sociedade magoa-nos, busquemos os motivos! Vençamos os obstáculos! No âmbito da arte poética, que não sejam ultrajadas a felicidade do poeta, nem o seu amor pela vida! Muito menos, a pureza livre pela qual se expõe ao mundo!<br /><br />- O que mais admiro nos poetas é esse poder da palavra! Se a utilizassem, sempre, para o Bem, seriam imbatíveis, pois construiriam uma nova Era!<br /><br />- Minha doce Rosa... muitos afogam-se à vaidade arrogante do próprio talento!<br /><br />- Quando, em verdade, esse talento deveria ser um dos mais belos veículos em direção à concretização da Felicidade individual, que se perfaz à realização de pequeninas coisas, uma de cada vez... mas, sempre!<br /><br />- Rosa, cada vida, individualmente considerada, é maior do que tudo! Sendo assim, o que não seria quando posta a serviço da Humanidade? Nenhuma Arte é superior a outra. Apenas, cada artista coloca-se no mundo, ao seu tempo. Essa, a grandeza da Arte... o caminho percorrido, os resultados alcançados! Quão belos os desafios de cada um, ao vencer os próprios limites!<br /><br />- Reafirmo o pensamento de que choras, não pelas ofensas individuais, mas pela ofensa social que presencias! De há muito, teu olhar engrandeceu-se, em direção à coletividade!<br /><br />- Rosa, não desistirei de ser fiel ao meu coração! Nada me deterá! Continuarei meu caminho, como Poeta do Amor e da Paz...<br /><br />Rosa silenciou. Levantei-me. Considerei finda aquela conversa de jardim. Não mais queria falar a respeito de tudo aquilo. Abri os braços, apaixonada pelo mundo que me cercava! O vento estava mais forte, naquele momento. Que delícia! De repente... de repente... senti-me leve! Muito leve! Muito leve! Muito mais leve... O que acontecia? Saíra do chão? Um cheiro forte de fogueira elevou-se no ar. Olhei para meu corpo. Diferente... possuía asas! Somente então, dei-me conta de que me afastara, em muito, do chão! Mais uma vez, nas alturas - Eu-Fênix - renascia das cinzas! Minhas asas de fogo batiam afoitas e livres, a caminho do céu. Bela! E, sem pedir licença ao vento forte, declamei meus poemas sensuais, aos sonhos do infinito! Ainda, com lágrimas nos olhos...<br /><br /><br />Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz.<br />Cabo Frio, 16/17 de março de 2010 - 22h16.Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Pazhttp://www.blogger.com/profile/09248745027360598811noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4503350062648940349.post-38758642220461835542010-03-18T14:45:00.001-07:002010-08-06T19:58:59.707-07:00O jardim e a poeta - Fábula - Episódio nº 1: Tudo foi amor, na minha vida!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjr9pZsW2usZ7In-KK8T6rZurN1OBQr-Pdy1AfYqXmro1q5tnjmXHWs8fqma8qd0nj34mOo5fDYPAnpsj1_zeJjGMyYXy93kxHAE5Fcz7oIpm7nCC7vFd8hL6X6Gm3ai_RE6_WzY4BZjR4U/s1600-h/ojardimeapoeta-assinatura.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 284px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjr9pZsW2usZ7In-KK8T6rZurN1OBQr-Pdy1AfYqXmro1q5tnjmXHWs8fqma8qd0nj34mOo5fDYPAnpsj1_zeJjGMyYXy93kxHAE5Fcz7oIpm7nCC7vFd8hL6X6Gm3ai_RE6_WzY4BZjR4U/s200/ojardimeapoeta-assinatura.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5450103371698485954" /></a><br /></p><br /><br />O dia amanheceu lindo e resolvi passear pelo meu jardim. Coloquei somente um robe longo, de seda negra, a combinar com a camisola. Sacudi a cabeleira escura e longa, permitindo-lhe aninhar-se, naturalmente, sobre os ombros.<br /><br />Desci as escadas com meu cão de guarda, ao lado. Não me deixa, o negro e belo meninão!<br /><br />A um olhar rápido conferi a sala. Não abri as janelas. O objetivo era o jardim e, por conhecer-me tão bem, sabia que permaneceria aos devaneios, a olhar a rua de terra, quase sempre vazia. Além do que, aquela floresta que a margeia encanta meu olhar e minha imaginação.<br /><br />Apressei o passo e abri a porta da cozinha. Num segundo, o calor natural do meu corpo atraiu o do sol, que me extasiou os sentidos!<br /><br />Como se enxergasse algo, para bem além daquela realidade, franzi a testa, contraí os olhos verdes de esperança azulada e esfreguei-os, levemente...<br /><br />Então e somente então, segurei a ponta da camisola e do robe, como a iniciar uma dança e adentrei o jardim. Que delícia de natureza! Longe de ser primavera, mas, por todos os lados, rosas e rosas e rosas vermelhas! Todas elas, vermelhas! Exigência, ao perfeito jardinheiro: grama sadia e rosas vermelhas. Pelo ano inteiro!<br /><br />Ofereci água a tudo, gramas e flores. O cão saciou-se, também. Aliás, o danadinho, a festejar-me, bateu forte as patas dianteiras no meu peito, e, num sem querer, desfiou, ligeiramente, a renda negra da longa lingerie que me vestia o corpo dourado de sol. Ah! Que pena!.. Ajeitei, rapidamente, enrolando o estrago com a ponta dos dedos umedecidos na saliva quente. Acalmei-o com afagos e iniciei uma conversa com a natureza. Tanta exuberância!<br /><br />Declamei o poema “Duas rosas” de Castro Alves e as flores emocionaram-se, a ponto da grama aveludada, carinhosa, acolher cada orvalho espalhado pelo chão. Tão verdinha, pediu-me, tímida, que declamasse um poema da minha autoria. As rosas festejaram a ideia! Um. Dois. Três. Quatro. Cinco... Dez! Quantos pedidos! E, eu, vaidosa como as pétalas das rosas, saciei-os a todos! Esvoacei por entre aquele verde todo, dramatizando cada palavra! Distribuí sorrisos maliciosos aos ventos! Provoquei as nuvens! As minhocas e as formigas pararam seu intenso trabalho, para ouvir-me! Seduzi até o ar, que entrava, sôfrego, pelas minhas narinas! Encantei a natureza inteira, daquele pedaço de chão, que tremia, excitado, aos meus pés!<br /><br />- Psiu! - chamou-me alguém, a cortar-me o frenesi. Olhei ao derrededor e nada vi.<br /><br />- Poeta! Aqui...<br /><br />Olhei e vi uma rosa linda, aveludada, de cor forte e firme, bem mais escura do que as demais. Carregadinha de espinhos, a proteger-lhe. Talvez, a mais idosa mas, pela sua beleza, destacava-se no imenso jardim.<br /><br />- Chamas-me, rosa afortunada de beleza?<br /><br />- Sim. Queria um beijo...<br /><br />- Claro! – respondi, curvando-me para beijá-la, delicadamente. Afinal, as rosas são muito sensíveis!<br /><br />- Sei a razão da tua poética!<br /><br />- Sabes, mesmo?<br /><br />- Sei. Foste, sempre muito amada.<br /><br />- Lá isso é uma grande verdade! Fui, sim. Sorri e sofri, mas amei e fui amada, sempre!<br /><br />- Posso enxergar na íris dos teus olhos. Tua vida está aí pintada...<br /><br />Fechei os olhos, rapidamente, como a proteger algum segredo.<br /><br />- Não faças assim! O amor é tão bonito e tão difícil de ser encontrado! Não te sintas envergonhada, nem mesmo pelos segredos mais profundos...<br /><br />Meneei a cabeça, como numa afirmativa, ainda que encabulada.<br /><br />E a sábia rosa continuou: - A Poesia acompanha-te desde o berço...<br /><br />- Outra verdade... - interrompi a bela flor - nasci do amor de mamãe poeta e de papai músico. Amaram-se, muito, durante toda a vida, até que papai se foi... Mas, acredito que, de tão lindo, aquele amor persista, entre as estrelas...<br /><br />- Sim, também creio nisso. Como vês, tenho bem mais idade do que as outras rosas e mais histórias ouvi. Queres sabê-las?<br /><br />Inquieta, sentei-me num banquinho, para escutar melhor a rosa.<br /><br />- No mundo das flores dizem muitas coisas. Quando o jardineiro escolheu-me para enfeitar teu jardim eu era, ainda, uma mudinha bem frágil, mas com ouvidos bons... e prometia ser muito bela, o que se confirmou mais tarde... modéstia à parte...<br /><br />A rosa sorriu delicada e, tímida, pareceu-me ainda mais vermelha.<br /><br />- Pois é... No caminho para minha nova casa escutei a conversa entre alguns sacos de terra, bem mais velhos do que eu. Animados em suas tertúlias, em determinado momento, apontaram-me, dizendo-me que seria plantada e cultivada na casa daquela poeta da qual falavam. Então, algumas aves, enxeridas, aproximaram-se e, a ciscar a terra, puseram-se, também, a palrear sobre ti.<br /><br />Acariciei meu cão e pedi-lhe sossego, para ouvir aquela conversa agradável. Afinal, transformara-me em história contada entre sacos de terra, aves e mudas de rosas! Uauuu!<br /><br />- Continuando... um dos sacos abriu-se e a terra que ali estava jurou-nos, por todos os deuses, que coadjuvou com terras, luas e sóis, nos sonhos do teu pai, antes do teu nascimento!<br /><br />- Como assim?<br /><br />- Segundo a terra negra, teu pai teve duas revelações, dias antes do teu nascimento. Na primeira, sonhou que teu rosto era o miolo de uma linda flor. Percebeste? Sempre flor, mesmo antes de nascer, aos sonhos do teu pai... Compreendes porque, agora, esse perfume todo, que embala tuas madrugadas, através dos teus poemas? Aqui do jardim, percebo tuas luzes acesas, até o raiar do dia e, de quando em quando, ouço teu canto. Na segunda revelação, ornava-te um vestido dourado. Caminhavas, princesa altiva, no alto de uma montanha. Encantado pela beleza que se colocava num quase uníssono ao infinito, teu pai cobiçava ver-te o rosto. Ansioso, aproximava-se, atento a cada movimento elegante do teu pisar. Mas, o faiscar daquela desconhecida beleza ofuscava-lhe os sensíveis olhos azuis. Então, quase que num golpe de piedade, olhaste-o de frente e aquele fatal olhar demarcou um eterno amor. Quando cresceste, teu pai reconheceu em ti aquele rosto encantador do sonho. E, fico a pensar, junto aos botões que enfeitam minha roseira, que tua forma de seduzir nasceu ali, naquele momento, no qual encantaste teu pai. Até hoje és assim... Gostas de ser cobiçada... instigas... mas demoras a te entregar aos desejos de alguém. Não obstante, quando te envolves, é para sempre, numa eternidade que só finda para o outro, jamais em ti!<br /><br />Nossa! Como saberiam, aqueles entes da natureza, a respeito das histórias que ouvira na minha infância e adolescência? E, que interpretação oferecia, aquela simples rosa, aos meus instintos femíneos! Mas, como... Antes que fizesse alguma pergunta, a rosa retomou seu relato, obrigando-me a permanecer em silêncio, instigada com tudo aquilo.<br /><br />- Um dos pombos relembrou outra passagem. Segundo sua pomba avó materna, no momento do teu nascimento, uma revoada de pombos saiu pela janela. Ninguém percebeu quando entraram. Foi um barulho de asas plá plá plá plá plá e uma alegria indescritível apoderou-se da tua mamãe, que, por mais tentasse, nunca conseguiu explicá-la a ninguém! Contou, ainda, que ao nascerem teus filhos sentiste aquela mesma alegria da tua mãe. E, que jamais foste a mesma, pois imbatível, em força e coragem!<br /><br />Extasiei-me! Escutara aquele episódio da minha mamãe, desde a mais tenra idade! Nunca quisera detectar a verdade ou loucura daquele encanto. Acreditara e pronto! Coisa tão linda não mereceria ser questionada. Mamãe contava tão embevecida! E, quando meus filhos nasceram, tive a certeza do que mamãe falara, porque uma alegria, uma felicidade indescritível fazia doer meu peito, sem consegui-la, também, explicar! Virei deusa, da noite para o dia... Nossa! Incrível! Melhor que prestasse mais atenção. Ajeitei a coluna um tanto quanto doída e agucei os ouvidos.<br /><br />- Um colibri ingressou na conversa para dizer que teu primeiro choro encantou a todos, logo ao nascer, por tão afinado!<br /><br />Sorri. Por que crescera tão desafinada, então?<br /><br />- De tão alto, teu choro acordou tua irmã pequenina, que entrou no quarto a perguntar se havia “crianças novas” por lá. Quando teus pais lhe responderam que havia uma menininha esperando por ela, decepcionada, respondeu que a cegonha errara.<br /><br />A rosa calou-se, por um instante, como se ela mesma estivesse presente na madrugada do meu nascimento.<br /><br />Então, completou: - Para tua irmãzinha, linda, de cabelinhos louros encaracolados, tão diferentes da tua morenice, teu nascimento fora um grande erro. Nunca escondera a preferência por um irmãozinho, para não perder o lugar de princesinha no coração dos teus pais. Mais tarde, segundo o colibri, inteligentíssima que era, resolveu o problema transformando-te na sua bonequinha viva, mesmo depois de adulta...<br /><br />Meus olhos marejaram-se de saudades. Emocionante. Minha querida e linda irmã, minha tão querida irmã, protetora, sempre... Mas, como sabia, aquela rosa, disso tudo? Ameacei abrir a boca para perguntar, mas fui, outra vez, interrompida.<br /><br />- O mesmo colibri expôs, também, que ao receberes visita de bebezinhos machos, estes permaneciam por longo tempo sem chorar, enlevados, como se estivessem a ouvir uma canção, ao longe... As mães diziam que teu sorriso encantava-os, à mesma forma que encantava, no mar, o canto das sereias. Outras, afirmavam ser a cor indefinida dos teus olhos, a causa do encantamento. Uma coisa ou outra, a verdade é que, quando os filhos apresentavam-se inquietos, levavam-nos para mirar teus olhos ou ouvir-te o sorriso.<br /><br />O sorriso agora era meu, embevecida, por ser o sujeito daquela conversa meio real e meio lenda. Não perguntaria nada! Queria somente ouvir as verdades e aqueles ditos um tanto quanto mitológicos a meu respeito.<br /><br />- Um curió relatou tua infância, tuas brincadeiras de índios com teus irmãos, num lugar encantado, muito simples e muito verde, repleto de montanhas, das quais, ao anoitecer, saía uma fumaça de fogo, que lhes instigava a imaginação!<br /><br />A esta altura, eu só voava no tempo, chegando a um recanto, naquela época, distante, onde mamãe, então professora, teve que permanecer por três meses, depois de formada, para "escolher cadeira"... Brincávamos de arco e flecha, corríamos dentre os arvoredos, naquele espaço infinito, delimitado, cuidadosamente, pela nossa linda mamãe. Depois, sentávamos, à luz dos lampiões, para ouvir e sonhar com as histórias fantásticas criadas pela mente maravilhosa da irmã Zizi, que a todos os livros de histórias infantis devorava, vorazmente!<br /><br />- Um uirapuru cantou tristemente a morte do teu avô paterno e do teu irmãozinho caçula... Mais tarde, a do teu papai...<br /><br />- É verdade... eles se foram... Meu irmãozinho, tão cedo!<br /><br />- Quantos amores, também, se foram... E, a tudo poetizaste! Alegrias e tristezas! Poucos compreenderam a extensão da tua necessidade de amar intensamente, mas poetizaste cada emoção!<br /><br />Permanecemos caladas, por um segundo, eu e a natureza.<br /><br />- Tanto amor e tanta poesia leva-me a crer, que, sendo tua mamãe poeta, conversaste poeticamente com suas vísceras, antes de nascer!<br /><br />Nossa! Que coisa mais forte e bonita acabara de ouvir!<br /><br />- Tudo, foi amor na tua vida! Cada lágrima, cada sorriso! Tudo! Tudo! Poucas pessoas amaram e foram amadas assim!<br /><br />Calada, permaneci.<br /><br />- Abra o coração! Não permaneças só. Não faças como eu, que embelezo todos os olhares e perfumo todos os sentidos, mas somente daqueles que entram neste jardim! Não lastimo minha sina, mas tua vida é um bem maior do que a minha vida. Podes agir, interferir no mundo! Eu, não! Não te enraizes! Não precisas de espinhos, para defender-te! Possuis o dom da palavra, o teu sim e o teu não! Escuta, deixa esse amor fluir! Não tenhas medo... É o que de mais lindo e mais completo sabes fazer! Continua a amar, agora, nesse outono!<br /><br />Misticamente, algumas gotas de chuva começaram a cair do firmamento. Lágrimas? Não sei. Em silêncio, lancei um olhar de despedida às rosas vermelhas, à grama, ao jardim, às realidades... quiçá, aos sonhos de amor... Chamei o cão. Entrei em casa. Abri as janelas. Admirei a paisagem.<br /><br />Uma dorzinha suave do lado esquerdo do peito, bem lá no fundo. O robe negro de seda e rendas, cheirou-me a luto...<br /><br />Depressa, esfreguei os olhos... Acordada! E, viva!<br /><br /><br />Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Pa"<br />Cabo Frio, 5 de março de 2010.Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Pazhttp://www.blogger.com/profile/09248745027360598811noreply@blogger.com0